Diz-se Bíblia e está-se dizendo O Livro pois esta palavra nos chegou dos gregos por biblíon. E assim Biblioteca, Bibliografia ou Bibliófilo. No Ocidente, a Bíblia significa O Livro por excelência, profusamente manuscrito e iluminado na Idade Média e o primeiro a sair da impressora de Gutenberg em 1455. Todos os cristãos a reconhecem como Escritura Sagrada, o que a faz transcender para lá dos homens e na alçada directa da inspiração divina.
Para os judeus a Bíblia chama-se Torah e compreende, grosso modo, o Antigo Testamento dos cristãos, o qual se compõe de 46 livros: o Pentateuco que logo pelo nome significa os 5 primeiros textos que vão do Génesis ao Deuteronómio e que, somados aos 16 que de Josué chegam aos Macabeus, perfazem os chamados Livros Históricos; seguem-se os 7 Livros Sapienciais de Job ao Eclesiástico e, finalmente os 18 dos Profetas como o são Isaías, Jeremias, Ezequiel, etc. Os cristãos incluem na Bíblia também o Novo Testamento em 27 livros, tomados como palavra e narrativa do magistério de Cristo: 4 Evangelhos ou Boa Nova, o livro dos Actos dos Apóstolos, as 21 Cartas e o Apocalipse que quer dizer Revelação. Diga-se ainda que apenas dois dos Evangelhos ─ o de Mateus e o de João ─ pertencem a discípulos directos de Jesus Cristo, sendo que a três desses quatro livros se chamam de sinópticos, palavra que a etimologia os faz assemelhar pelo seu idêntico ponto de vista ou óptica narrativa. Já o Evangelho de S.João, “o discípulo amado”, adopta uma perspectiva mais simbólica e espiritual.
Como os judeus não aceitam Jesus Cristo, o Nazareno, como o seu Messias, obviamente não reconhecem o Novo Testamento. Diga-se que no Corão islâmico Jesus é tomado como um dos profetas maiores, só suplantado pela palavra de Maomé.
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Se a Bíblia fosse apenas um livro com a História do povo judeu, teria a importância relativa que qualquer livro de História tem. Todavia, bem mais que isso, o Judaísmo e o Cristianismo caldearam-se em sínteses religiosas, filosóficas e culturais com o antigo pensamento greco-latino, formando-se por eles toda a rica civilização europeia e, a Europa é como sabemos, a mãe das Américas ainda que também seja, talvez, a madrasta de África. Seja como for, o Ocidente por inteiro não se entende sem a Bíblia.
Outro aspecto decisivo que importa é que a leitura e interpretação deste magno Livro, continua hoje a repetir-se criativa e diariamente em todo o mundo dentro do contexto das intervenções litúrgicas cristãs e judaicas. Todos os dias a Bíblia é lida e meditada. Todos os dias é fonte de vida e manancial para o espírito de milhões de pessoas.
A Bíblia é mesmo tomada como a própria Palavra de Deus, o Criador fala-nos por ela explicitamente como de forma implícita o faz pela Criação. Há mesmo milhares de livros de teólogos, filósofos ou simples crentes aprofundando muitos dos seus textos ou uma só frase, ou até mesmo uma única palavra, como é o caso do Zohar judaico ou da Cabala, incluindo a Cabala cristã.
A Bíblia é pois um rio imenso, um caudal largo que dá e recebe muitos cursos da água espiritual entre os homens. Onde vai dar este rio? Não o sabemos, mas os que lêem e meditam este Livro crêem que um dia desembocará na foz da História humana e no mar infinito de Deus.